Tecido usado em sobreviventes da Kiss ainda não é liberado no Brasil; médicos buscam a regulamentação da prática

Tecido usado em sobreviventes da Kiss ainda não é liberado no Brasil; médicos buscam a regulamentação da prática

Foto: Divulgação

O uso da membrana amniótica, tecido que envolve a placenta e o bebê, poderia suprir totalmente a necessidade de pele para cicatrização de queimaduras. Porém, no Brasil, a coleta desse tecido ainda não foi autorizado. Por isso, uma frente nacional pela aprovação do uso da membrana foi criada para acelerar o processo de regulamentação do uso desse material no país. O procedimento está em análise na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). O pedido foi encaminhado em 2013, quando o material foi utilizado de forma emergencial para tratar queimaduras de vítimas do incêndio na Boate Kiss.


+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia


Atualmente, casos graves de queimaduras são tratados com curativos ou transplantes de pele. Mas, diante da insuficiência de bancos e escassez de doações, o uso de pele atende só 10% das demandas no país. No Brasil, são apenas quatro bancos de pele. O primeiro deles foi criado na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Até 2012, foi o único em funcionamento no Brasil, tentando atender os pedidos de todos os Estados. Após essa data, foram criados bancos de pele em São Paulo (2012), Recife (2013) e Rio de Janeiro (2015). Todos são mantidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e responsáveis pela captação, processamento, conservação e distribuição do material para todo o país.

Conforme o cirurgião plástico Eduardo Mainieri Chem, coordenador do Banco de Pele da Santa Casa de Porto Alegre e que lidera o movimento, a membrana se comparada à pele, é mais fácil de captar, esterilizar e disponibilizar o material, além de custos e logística menores. Há, também, diferença na abordagem para doação:

Quando abordamos uma família para captar a pele, nós abordamos uma família enlutada que geralmente perdeu um familiar, muitas vezes de uma forma trágica ou precoce. E essa família está gigante para doar os órgãos desse familiar e, nós ainda temos que explicar que vamos tirar a pele, sem mutilar o corpo de regiões não expostas. Isso é, muitas vezes, difícil. Diferentemente, quando se aborda uma família para captar a membrana, nós abordamos essa família em um momento mais bonito que ela está vivendo, que é o nascimento de uma criança. Ou seja, o sim desta segunda família é completamente diferente da primeira.

Chem ainda explica que a função de ambos é semelhante. A vantagem é a abundância e a utilização. A membrana pode ser usada em grandes queimaduras, mas também em crianças que nascem com má formação, em infecções em cirurgias cardíacas e até na ginecologia e endometriose, para ajudar no tratamento de problemas no útero.

– Nós não damos conta de tratar tantos queimados no país com escassez de pele e dificuldades para captação de pele. E a membrana seria uma alternativa para isso, como já é usada em muitos países como EUA e países europeus.


Uso na tragédia da boate Kiss

O uso da membrana amniótica é adotado em países como Estados Unidos e da Europa. Na América Latina, o Brasil é o único a não ter a regulamentação. Em 2013, no incêndio da Boate Kiss, que provocou a morte de 242 pessoas e ferimentos em outras 636, o material foi utilizado no tratamento das vítimas a partir de uma autorização especial pelas autoridades sanitárias, permitida em catástrofes. Foi usada a membrana doada por outros países. Agora, a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria integra a frente pela liberação do uso.

– Esse tecido é extremamente benéfico no tratamento das queimaduras. É nesse sentido que a associação está representando as vítimas que foram beneficiadas pelo uso dessa membrana, cuja coleta no futuro pode reduzir os danos das queimaduras e do tratamento – diz o presidente da AVTSM, Gabriel Rovadoschi.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

imagem Thais Immig

POR

Thais Immig

[email protected]

Governo do Estado lança site do Plano Rio Grande Anterior

Governo do Estado lança site do Plano Rio Grande

Troféus, homenagens e atrações musicais: saiba mais sobre a cerimônia do Prêmio Ana Primavesi Próximo

Troféus, homenagens e atrações musicais: saiba mais sobre a cerimônia do Prêmio Ana Primavesi

Geral